Mundos apocalípticos: Histórias do fim dos tempos (resenha)

"Mundos apocalípticos" é uma coleção de 23 histórias curtas de ótimos autores - mas,  infelizmente, poucas delas são memoráveis. Há meia dúzia de contos interessantes e uns três ou quatro fantásticos, mas a coletânea em geral é bastante mediana. O fio condutor aqui é o "fim do mundo" como conhecemos, mas não há  muito mais que conecte esses contos de épocas e autores tão diferentes.


O conto mais interessante da coleção é provavelmente "O povo da areia e da escória", de Paolo Bacigalupi, que retrata um mundo onde os seres humanos transcenderam a capacidade de sentir dor - e se tornam criaturas bastante diferentes por isso. Como acontece nas melhores histórias de ficção científica, aqui se usa os avanços tecnológicos para questionar a natureza da humanidade.

"Sons da fala", de Octavia E. Butler, também é excelente. Aqui, outra característica da humanidade - a linguagem - é perdida, e a história retrata os efeitos dessa perda nas relações humanas.

"Os anjos de Artie" (Catherine Wells) é uma releitura divertida das lendas arturianas. George R. R. Martin e Gene Wolfe entregam histórias interessantes ("Escuros, muito escuros eram os túneis" e "Mudo"), mas que provavelmente não refletem seus melhores trabalhos. 

"Uma canção antes de o sol se pôr" tem momentos tocantes e vale a (curta) leitura. "Depois do juízo final" tem uma premissa curiosa (a histórias dos remanescentes de um Juízo Final divino que eles não entendem completamente), mas não faz muita coisa com essa premissa.

"Mudo", de Gene Wolfe, cria um clima de mistério eficiente, embora seja é confusa e misteriosa. "O fim da confusão toda", de Stephen King, tem uma narrativa competente mas um enredo fraco e inverossímil.

"Pão e bombas" e "Assassinos" são duas histórias de épocas e temas semelhantes (a guerra) que entregam algumas surpresas, mas só isso. "Inércia" é um pouco arrastado mas traz temas e discussões válidos. "O Fim dos Mundos como Conhecemos" traz uma perspectiva mais individualista que é bem-vinda por destoar do usual.

As demais histórias tem qualidade variável mas, como mencionamos, não causaram um impacto duradouro na minha memória.

É difícil julgar uma coletânea contendo histórias de qualidade tão diversas, mas de forma geral eu não creio que esses contos sejam uma boa representação do melhor que a ficção científica tem a oferecer quanto no tão celebrado tema de "mundos pós-apocalípticos" - que tem histórias tão interessantes quanto "A Estrada", "Eu sou a lenda", "Um Cântico para Leibowitz" e assim por diante. 

De qualquer forma, se o tema lhe interessa, pode ser uma leitura agradável, ao menos para a maioria das histórias.

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